DESVIO À ESQUERDA
Portugal procurava as Índias.
Um desvio à esquerda, um deslize, cosmológico, humano… ou seja lá o que for… o levou a “encontrar” o Brasil.
“Encontrar”. Essa descoberta era de outro povo, de alguém que veio de fora e achou uma terra “desabitada”. E com muitos desvios à esquerda começou a se apropriar.
Do provisório ao definitivo, traçando linhas no solo, abrindo caminhos em mata virgem, começou a se instalar, a se impor, a se misturar…
O Brasil virou mistura. Cheio de desvios à esquerda.
A cultura indígena se deixou “desvirtuar”. Desviou para a esquerda…
“Retornei” à terra europeia, que carrega minhas origens - material genético que por acaso ou não veio parar aqui, misturando com outros materiais ou matérias sei lá de onde.
Muitos desvios à esquerda.
Retornei e comecei a me conectar. Encontrei a semelhança linguística, cheia de tropeços, que continuavam a cair para a esquerda e me atropelar.
Reconheci hábitos, reconheci pessoas, muitas! No entanto todas diferentes. Todas desviadas à esquerda.
Entrei na mesma arquitetura, onde encontrei Olinda, a Lapa, Marechal Deodoro, o barroco, o gótico, a art déco, e fui abençoada pelo mesmo cristo. Eu e toda essa gente que caminhava abaixo, desviando à esquerda. Me apropriei de ruas. Desses caminhos ladeirados onde permiti me perder.
Uma terra desconhecida é obrigada a abrigar brasileiros. Em esquinas, monumentos, praças, e letreiros, encontrei os desvios à esquerda e me desencontrei.
Entre falas políticas e as imensas igrejas douradas, há desvios à esquerda. Me encontrei.
Nas ruas há calor, nas pessoas não há calor. Não há toque de corpos, não há quebra de quadril e não ouço os tambores. Misturo meu Brasil através do meu corpo em alguns desvios à esquerda.
Ano: 2017
Técnica: Fotografia
Disponível para compra em impressão FineArt.